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__ quarta-feira, agosto 31, 2005 _
não é raro obrigar-me a ficar quietinho em algum sítio até que o meu fantasma decida se estou deprimido. e escrevo "fantasma" como na música dos Siouxsie and The Banshees, The Ghost in you.
João | 17:44 |
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na série Freaks and Geeks há caras que fascinam. a minha preferida: e também gostei destas: _ terça-feira, agosto 30, 2005 _
No domingo apeteceu-me passear pelo centro histórico da minha hometown.
A câmara municipal fez uma encomenda (quero dizer, "concurso") ao arquitecto Gonçalo Byrne para requalificar toda a zona histórica de Alcobaça, e, como se pode ver pelas fotos que tirei, resultou isto. Onde antes havia árvores ao acaso e parque de estacionamento, há agora uma espécie de malha geométrica de campos de ténis. O aspecto é lunar mas vai ficar mesmo assim - sem ornamentação, sem árvores, sem bancos de jardim, sem pessoas. A depuração de hoje contra o gótico de ontem. Alcobaça, uma cidade do futuro lunar.
Parece-me que à segunda chuvada de Inverno tudo isto se transformará numa enorme praia fluvial, mas, como estou sempre à espera que alguma coisa mude naquela terra, tudo bem. ...
As fotografias do meu baptizado foram todas tiradas aqui, no cenário antigo. O meu pai usava patilhas até ao queixo, a minha mãe usava uma bandelete vermelha – é assim que aparecem nas fotografias.
...
Nos arredores encontrei uma loja de souvenirs com uma montra interessante. Na esquerda, um suposto S. Rafael ou Anjo Rafael, a tentar mostrar a perna aos fiéis. Ao centro, uma criança de cabeça desproporcionada numa cena mui bucólica com o seu melhor amigo cachorro. À direita, um menino a ter sexo com um cão.
João | 10:10 |
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_ segunda-feira, agosto 29, 2005 _
"Anticipating"
João | 10:16 |
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I've been anticipating I want no wrong with you You're feeling this right let's do this tonight (yeah yeah) Ouvir parte da história da minha vida na voz de uma diva pré-fabricada é uma bela razão para viver. Sou um rapaz que sempre viveu a antecipação de forma intensa, pelo que me senti compreendido quando um amigo partilhou comigo esta música da Britney Spears. Já não basta perder tempo quando o mal acontece, eu sou o tipo de pessoa que perde tempo a antecipar o mal que pode acontecer. Sofro aos domingos, a antecipar segunda-feira. Sofro no último dia de férias, a antecipar o trabalho. Também me acontece sofrer pela perda de coisas que ainda estão cá, que ainda não perdi, ou pela perda de coisas que nunca cheguei a ter. E é uma atitude completamente inútil porque as coisas chatas são um processo com vida própria, passamos por elas sem darmos conta. Mas eu sou assim, eu sou assim, paciência. música para alunos do conservatório de cinema: he took her to a movie, but so did i (ladytron) João | 10:13 | 1 comments_ sexta-feira, agosto 26, 2005 _e se no ar aparecer um cavalo
morram
Contabilizei todas as perdas do assalto ao meu carro. Tirando a fechadura estragada, perdi a caixa de um cd da Erykah Badu (o cd ficou dentro do rádio, ladrões estúpidos), e um cd pirata dos Arcade Fire, o "Funeral" (que tipo de pessoa rouba uma cópia?!). Podia ter sido pior, mas num espaço de um ano é a segunda vez que o meu carro é assaltado. É só um citroën saxo people!, deixem-no em paz. _ quinta-feira, agosto 25, 2005 _a vida deles
João | 10:12 |
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Reflexão pós-filme (Son Frère, de Patrice Cherau): A minha relação com a família tem mudado com o passar dos anos. Quando vim morar em Lisboa por causa da faculdade, em 1999, cortei alguns laços de sangue. Fora do meu espaço geográfico, muitos primos, tios e tias acabaram por não ocupar mais do que um quadradinho no álbum de fotografias. Para eles passei a ser o primo da cidade, e cá, livre dessas relações de sangue, arranjei outra família (olá Rita, olá Filipe). Sempre que tinha um atrito com a família de lá, questionava mais e mais o seu valor - eu preciso de vocês?; quem é a minha família? Do ano 2000 para a frente, onde o corte com alguns familiares já era evidente, passei a temer jantares de Natal, aniversários e encontros pontuais semelhantes. Eram encontros hipócritas, desconfortáveis, onde os rancores que as pessoas guardam eram vísiveis (e eu, o primo afastado, era dos que mais rancores guardava). Nessa altura, o valor da família biológica era muito pouco, um sacrifício. Em 2005 as coisas estão outra vez a mudar, e aqui estou muito em sintonia com o filme, reencontro de dois irmãos numa situação limite e progressiva recuperação de intimidade. Podemos desisitir da família da mesma forma que desistimos de um amigo? Eu acho que não, embora já tenha pensado que sim. Os laços de intimidade que se forjam quando somos muito pequeninos não são iguais aos que construímos agora. É certo que as pessoas se chateiam, afastam-se, deixam de sentir a falta umas das outras. Mas depois dos rancores, conseguir passar uma tarde a conversar com essa "família" perdida traz um calor e um alívio que não se sente em situação idêntica com mais ninguém. Essa intimidade da infância fica para sempre dentro de nós. É bom voltar a ter cumplicidade com a avó, apesar da homofobia e do machismo. E a minha reflexão paralela ao filme é mais ou menos esta. Podemos escapar aos reencontros com amigos perdidos, mas não nos livramos dos reencontros com a família. A forma como se passa uma hora inteira até os dois irmãos darem outra vez as mãos (foto acima) é comovente. O filme é muito mais do que relações familiares, mas tudo o que existe no filme também cabe nas relações familiares: morte, vida, aceitação, amor, rancor, ódio, perdão, mágoa, etc. _ quarta-feira, agosto 24, 2005 _Gosto de uma música dos Maximo Park que anda aí a rodar nas rádios, gosto da leveza com que o rapaz canta o refrão: Com o primeiro álbum foram muito bons. Ao segundo álbum continuaram a ser bons, mas desconfiei: é o tipo de banda que só dura uma década, edita no máximo cinco discos e fica inscrita nas enciclopédias da pop com uma estreia fulgurante e um punhado de bons singles nos discos seguintes. Ao terceiro disco confirmo. Refiro-me aos Goldfrapp. A primeira desilusão são as letras. Não é que os anteriores fossem exactamente epopeias poéticas, mas as letras tinham qualquer coisa de impenetrável que iludia. Por muito boa que uma música seja, não há nada a fazer contra uma letra pateta. E no lado formal também não estamos ao melhor nível. No "Black Cherry" aliavam a pop à experimentação electro de uns Add(N)To X, mas aqui as músicas são todas muito certinhas, sempre com os refrões no lugar certo, uma chatice comparando com o que os Goldfrapp já fizeram. _ segunda-feira, agosto 22, 2005 _
fiz um profile no gaydar
e o menino naquele dia, farto de esperar, disse, quero namorar, quero namorar, e ficou à espera João | 11:25 | 4 commentsa tia era maluca e o bucho desmanchado Dado que os almoços de família não podem ter só desvantagens, descobri ontem que a minha falecida tia-avó foi prostituta na década de 50. Uma revelação completamente "Donas de casa desesperadas", mas aparentemente só eu é que não sabia (aah, a verdade escondida!). A velhinha foi prostituta - que orgulho, que alívio, não sou a primeira ovelha negra na família. O nome era Ermelinda mas todos a tratavam por "tia maluca", facto que nunca questionei. Agora percebo que era necessário um nome inimputável para pôr a funcionar a caridade de uma família profundamente católica e analfabeta.
João | 11:06 |
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Tenho muitas recordações desse tempo. A minha tia era a bruxa da aldeia. Lembro-me de assistir a leituras de tarot, de haver revelações grandiosas, e de como ela sabia adaptar os espíritos à escala do meu mundo quando eu e os meus primos pedíamos uma leitura, revelando coisas sem importância nenhuma. "Amanhã encontras uma nota de 100 mérreis no chão". "Amanhã vai à loja do Sr Ramiro que ele dá-te uma pastilha". Também me lembro de lhe ter perguntado se devia escolher francês ou inglês no ciclo, e ela que estava a comer carapaus cozidos fez uma coisa divertidíssima: meteu mais azeite no prato e viu o meu futuro nas bolas que o azeite formava; depois comeu o futuro. Disse-me para escolher o francês, mas eu, rapaz já afinado com o mundo, escolhi inglês. Acho que foi nesse ano que morreu. Agora que penso nisso, o azeite devia ser um utensílio muito útil nestas artes mágicas, porque também me lembro de perder o apetite e ser levado ao ermo da "tia maluca" com uma garrafa de azeite nas mãos. A expressão utilizada para descrever a minha maleita era "bucho desmanchado". O que se seguia prova que a credulidade humana é uma coisa espantosa. Deitavam-me numa cama e suspiravam-se rezas enquanto a minha avó me massajava a barriga com o azeite. Esta parte era muito agradável. O processo acabava com a colocação de uma folha de couve inteira contra a minha barriga bezuntada, que era enfaixada com gaze; e eu tinha de andar com o azeite e a couve durante três dias inteiros. Ao terceiro dia o cheiro era memorável, mas ao menos poupava-se nas consultas da Doutora Isabel Guerra. E assim cresceu mais um rapaz do campo. Olá tia! _ quinta-feira, agosto 18, 2005 _Gosto de perder algumas noites da minha vida refastelado no sofá, a ver televisão. Ultimamente, ando viciado em alguns documentários do canal Odisseia, que começo a ver por total acaso.) _ quarta-feira, agosto 17, 2005 _Depois do porta-chaves que diz "Home & Dry" e da t-shirt que diz "Bad Boyfriend", já começo a pensar numa linha de roupa só minha. Este fim-de-semana tive outra ideia revolucionária para t-shirts, e desta vez trata-se de uma promoção. Duas t-shirts vendidas em pack, ao preço de uma, pró menina e prá menina. Fundo branco, letras vermelhas no peito. Uma diz "I Love him". A outra diz "I Hate him". _ terça-feira, agosto 16, 2005 _
Não te vás embora
Ainda não ouvi o novo disco - "Extraordinary Machine" - da Fionna Apple, mas estou muito curioso. Esta fotografia é linda. João | 17:06 | 6 commentsSe eu fosse um realizador ou um escritor obcecado com a adolescência, todas as minhas obras seriam sobre um rapaz chamado Marco. João | 16:26 | 3 commentstrabalho, pt1 Sexta-feira passada, estava muito bem sentadinho numa esplanada, eis que na mesa em frente se senta uma alma da blogosfera. Nunca nos conhecemos, faço o reconhecimento por fotografias publicadas e outros pormenores. Luto para me abstrair da presença e voltar à conversa. Pouco tempo depois, a mesa já desocupada, quem se vem sentar logo de seguida? Outra alminha da blogosfera. Nunca nos conhecemos, mas volto a fazer o reconhecimento por fotografias publicadas e outros pormenores. Todos em rede e todos sentados. João | 11:59 | 4 comments_ quinta-feira, agosto 11, 2005 _Ontem foi só gastar. Primeiro, "Things to make and do" dos Moloko, em promoção na Hippodrome. Este disco deve ter sido dos últimos que gravei em k7 de um amigo. Justificava-se uma aquisição, até porque andava com saudades de "Something somewhere" (your spirit is free!). Ouvido à distância, não sobrevive tão bem ao tempo como o "I am not a doctor", embora fiquem para a história o "Pure Pleasure Seaker", o hino de verão "The time is now" e a citada "Something somewhere". O resto é engraçado e serve como recordação. Long live Roisin! _ terça-feira, agosto 09, 2005 _Sábado passado fui a um bar novo que se chama "Associação de Loucos e Sonhadores". Este nome é tão New Wave e tão estranho para 2005, que bem merece a publicidade. A gerência tem inteligência suficiente para disfarçar um mau café com sabor a caramelo, as bebidas são baratas, e a decoração é interessante e cosy. Ainda por cima, tem um ar muito underground porque é uma cave. Fica no Bairro Alto, perto da Ler Devagar. E é mesmo uma associação, com quotas e tudo - 1€ por mês para se ser associado dos loucos e sonhadores. Estou a ponderar. Quando tiver uma casa, espero ter espaço para uma divisão excêntrica. Tipo isto: _ segunda-feira, agosto 08, 2005 _Ando vidrado em duas músicas: Sempre que depois de uma noite mal dormida o meu corpo começa a quebrar, lembro-me de um episódio engraçado que aconteceu com uma amiga nos transportes públicos. Confidenciou-me ela em voz alta - "Estou a morrer das pernas". Ao que uma senhora, já entradota, com um sotaque engraçado, decide responder - "Ó menina, olhe que ninguém morre das perrrnas. A gente morre semprre dos interrriorres." João | 00:31 | 0 comments_ quinta-feira, agosto 04, 2005 _Quem me tem acompanhado nos meus últimos dias de férias são os M83. Uma foleirada bonita, estes. Estão mesmo na fronteira entre o bom e o mau-gosto (às vezes passam para o outro lado, mas depois voltam). Identifico-me com estas bandas que não têm medo da exposição nem do ridículo. E quem diz os M83 diz os Xiu Xiu ou os Arcade Fire. João | 11:53 | 4 comments_ segunda-feira, agosto 01, 2005 _A meio das férias na terrinha, lembrei-me de uma coisa que a Roisin Murphy disse em 2000: Mother you will never be my sister. |
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