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_ quinta-feira, agosto 18, 2005 _


Gosto de perder algumas noites da minha vida refastelado no sofá, a ver televisão. Ultimamente, ando viciado em alguns documentários do canal Odisseia, que começo a ver por total acaso.)

macro-cosmos

Apesar de a esmagadora maioria dos meus contemporâneos de escola primária não concordar comigo, lembro-me perfeitamente de em criança não ver nenhuma vantagem na profissão de astronauta (ao contrário da carreira de contabilista, cantor, actor ou cabeleireira). O universo parecia-me uma realidade demasiado fantástica para uma coisa tão séria como uma profissão, embora a pouco e pouco tenha ganho cada vez mais curiosidade pelo assunto. Hoje em dia é o meu tema preferido na área das ciências.
Já li algures que o universo se continua a expandir - para onde? No mesmo artigo li que o Universo se expande até um certo limite, a partir do qual recomeça a contrair-se, até o bing bang! acontecer outra vez. É rídiculo, eu sei que já não vou estar cá, mas o facto de haver um deadline para este planeta dá-me um nó no estomago. Se calhar o Universo é uma molécula.
O documentário que vi era sobre a estação russa MIR. Há pormenores na vida prática dos astronautas muito engraçados. Por exemplo, cabelos. Não podem lavar o cabelo com água porque espalhar-se-ia pelo ar, e para fazer um corte de cabelo são precisas duas pessoas: uma para cortar, outra para aspirar os cabelos que se desprendem e começam a flutuar. Varrer o chão é um conceito obsoleto. Mas também me interessam os pormenores metafísicos. O que é que um astronauta sente ao flutuar no espaço quando, por exemplo, sai à rua? Literalmente, transcende a vida terrena, fica imerso no infinito. Depois regressa à nave. Alguma coisa deve mudar na alma daquela pessoa. Os astronautas serão líricos? Para mim tudo isto continua a parecer tão fantástico como há 20 anos atrás.
Há uma música da Adriana Calcanhotto sobre o assunto: Estrelas para mim / Só para mim / Para mim / Para mim / Para mim / E a treva entre as estrelas / Para mim.
E também há uma cantilena da Adília Lopes: Não sei se me interessei pelo rapaz Por ele se interessar por estrelas Se me interessei por estrelas Por me interessar pelo rapaz Hoje quando penso no rapaz penso em estrelas E quando penso em estrelas penso no rapaz Como me parece que me vou ocupar com as estrelas Até ao fim dos meus dias Parece-me que não vou deixar de me interessar pelo rapaz Até ao fim dos meus dias Nunca saberei Se me interesso por estrelas Se me interesso por um rapaz que se interessa por estrelas Já não me lembro Se vi primeiro as estrelas Se vi primeiro o rapaz Se quando vi o rapaz vi as estrelas.


micro-cosmos

Outro assunto que sempre me interessou e sobre o qual vi ontem um documentário, são as ténias. Sei que isto é informação que muita gente dispensa. Não sendo um tema da actualidade, sinto mesmo assim que é meu dever informar.
Um ciclo de vida normal deste parasita começa em forma de ovo, que a mãe-ténia liberta num corpo hospedeiro, e que é expelido por via de excrementos. No fundo, a vida da ténia depende de acasos valiosos. > Se estes ovos chegam à água e são ingeridos por algum peixe, desenvolvem-se larvas da ténia, que se alojam na parede intestinal. > Se o peixinho tiver a infelicidade de ser comido por um predador, as larvas, em vez de serem digeridas, pacientemente migram para o intestino do novo hóspede. > Se o predador for uma pessoa como nós (título de um livro da Margarida Rebelo Pinto), a ténia tem espaço para evoluir para a sua forma definitiva e já não sai para mais lado nenhum, alimentando-se de vitamina B12 e outras coisas que o nossso organismo produz. O engraçado é que os bichinhos, nesta fase, podem atingir os 10 metros de comprimento. Imaginam uma coisa de 10 metros a habitar-nos as entranhas? Outra coisa fascinante, é que a maior parte destes seres fininhos de 10 metros habita-nos quase sempre de forma benigna, numa simbiose pacífica que desconhecemos. O número de portadores humanos está estimado entre 40 e os 60 milhões. Neste momento acaricio a minha barriga (começo a natação em Setembro) e questiono-me se sou uma dessas pessoas. 10 metros! Blergh.

Entre o micro-cosmos e o macro-cosmos existo eu.

João | 14:39 |

7 Comments:

At 18/8/05 16:35, Blogger Luis Gaspar said...

Eu hoje ia comer sushi. Ia mesmo, comprei uma posta de atum e tudo. Já não vou.

 
At 18/8/05 16:45, Blogger João M said...

Esqueci-me de dizer que os peixes-hospediros são de água doce, pelo que não corres perigos com o atum. Bom jantar!

 
At 18/8/05 19:58, Blogger Sérgio Lavos said...

O fabuloso mundo dos documentários televisivos! Apenas não concordo contigo numa coisa: é realmente fascinante o ciclo de vida da ténia. :)

 
At 19/8/05 13:50, Blogger O Puto said...

Macro-comentário: A astronomia sempre me fascinou, apesar de nunca ter querido ser astronauta. O Universo apresenta uma certa densidade, cujo valor se desconhece. Mas existe um valor de referência, chamado densidade crítica, abaixo do qual o Universo desacelerá, parará de se expandir e comprimir-se-á, gerando um big crunch, fenómeno oposto ao big bang. Por acaso tb vi o documentário sobre os astronautas, onde pude observar o quão complicadas são as tarefas quotidianas em gravidade nula.

Micro-comentário: Quando era miúdo julgava ter uma ténia (popular e terrivelmente designada de "bicha solitária"), pois comia imenso e não engordava. E subscrevo o Blergh.

 
At 19/8/05 14:40, Blogger gonn1000 said...

Ainda me lembro de quando iam uns senhores falar sobre as ténias na escola primária, e das caras de medo e repúdio que eu e os meus colegas fazíamos... Spooky :S

 
At 19/8/05 15:13, Blogger João M said...

Sérgio, o interessante é que as ténias se aproveitam da cadeia alimentar para sobreviverem. É interessante um animal tão pequenino ser tão perverso. Elas deram a volta ao sistema!

Puto, adorava ter estudado física para perceber essas coisas. Não consigo perceber é o conceito de expansão. Se o universo se expande, então tem um limite, e o que há nesse limite? É como a terra antes de ser redonda? Se os barcos continuassem para sempre acabavam por cair num abismo? "bicha solitária", LOL. Mais vale ser magro.

 
At 6/9/05 16:43, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 

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