continuando
e continuando nisto de fotografias e internet
a companhia Completely Naked tem um projecto worl wide web que consiste em recolher fotografias sob o tecto de um mesmo tema. a última recolha totalizou uma selecção final de 500 fotos, e a exposição, depois das galerias online, materializou-se em Londres na Campbell Works.
parece-me que estes trabalhos em comunidades web até podem ser um terreno fértil para coisas interessantes, porque excluem uma série de obstáculos existentes no mundo real: a burocracia, a expectativa, a formalidade, o currículo, a institucionalidade, etc. os resultados finais é que podem ser lixo. e neste caso, os resultados são sofríveis, mas isso também torna a coisa interessante (para mim).
o tema para esta última recolha era 'Intimidade'. 99% das pessoas que participaram sob o espírito da intimidade fizeram-no através de corpos nús, almofadas e lençóis, corpos a foder, corpos a dormir, jogos de sombra sobre a pele, olhares intensos, etc. tudo muito óbvio e ingénuo, portanto.
tenho a sensação de que o raciocínio escondido nestas coisas da auto-exposição, no mundo da arte, é mais ou menos isto: Eu ficava mal nas fotografias que a minha mãe tirava, mas quero mostrar agora ao mundo que sobre determinado ângulo e determinado filtro, a minha beleza invulgar vem ao de cima. o que ainda assim é mil vezes preferível a: Eu sou original e diferente. só não acho é que um pénis ou uma vagina representem qualquer tipo de intimidade. não serão mais símbolos de intimidade do que um nariz, por exemplo.
isto leva-me a uma coisa que me irrita um bocado nas artes actuais (música e cinema incluídos), que é confundir coragem com masturbação.
não deixa no entanto de ser uma boa desculpa para vermos corpos anónimos de todo o mundo (naked people get together!), e aliás, o próprio nome da companhia - Completely Naked - é significativo. se bem que no meio de tantos nús, a roupa torna-se sexy. vejam este rapaz aqui.
eu não sei o que é que isto tem a ver com intimidade (espero que não sejam os pés descalços), mas gosto. gosto de possivelmente todas as fotografias em que uma mão aparece a segurar um cigarro, e se a zona pélvica aparecer no enquadramento, oh boy!
deixo o link para quem quiser ver a exposição online (alguns corpos valem a pena) ou participar em próximas recolhas. para esta já não vão a tempo. de qualquer forma, não sei o que fotografaria sobre o tema 'Intimidade'. não consigo pensar em nada interessante. provavelmente acabaria por fotografar-me nú (não que isso seja interessante, mas eu arranjaria forma de o ser).
João | 14:17 |
5 Comments:
esperamos ansiosamente.
O_O
Revejo-me na tua frase sobre ficava mal nas fotografias que a mãe tirava, logo procuro vingar-me. E também não acho que seja íntimo uma vagina. Acho apenas de mau gosto.
Acho que a maioria das fotos têm mais a ver com exibicionismo que com intimidade. A meu ver, para registar a intimidade, é necessária espontaneidade e também desconhecimento por parte da pessoa fotografada. Por conseguinte, ninguém consegue fotografar a sua intimidade. Claro que posso estar a dizer um grande disparate.
Intimidade, segundo o dicionário:
1. No mais fundo de si; por dentro.
2. De uma forma muito estreita, muito directa, muito profunda, do ponto de vista social, afectivo ou sexual.
monastero, keep on waiting.
lg, vivam as máquinas digitais onde podemos premir nervosamente o botão do 'delete' segundos depois de tirar a foto.
puto, não sei mesmo como é que se regista a intimidade na fotografia. acho que à partida é uma batalha perdida eh eh.
estes trabalhos todos são característicos de uma geração que segue modelos bem definidos. a maior parte terá como inspiração o trabalho do wolfgang tillmans ou da nan goldin.
de certa forma redireccionam, como outros já fizeram antes, a linguagem da fotografia doméstica e o "snapshot" para um contexto artístico.
e a escolha do nú como tema é sintomático do que significa fotografia para muitos dos jovens artistas que estudam/praticam fotografia nos tempos que correm. acham todos que têm que ser "reais". a fotografia não interessa, o que interessa é o assunto e o impacto no espectador. o mundo deles é mais importante do que a forma como o mostram. o tal do faux-naive que tem de ser muito bem feito, e que a maior parte não consegue.
infelizmente as escolas de fotografia estão cheias de seres assim, e infelizmente não existe espaço para tantos pedantes. o hermetismo desta estética faz com que a maior parte dos trabalhos morra quando é colocado na parede das galerias. existem excepções obviamente.
certamente a maioria é anti-digital e fotografam com máquinas-brinquedo. the real deal. ;)
uma sugestão. as fotografias do hedi slimane. eu não gosto das roupas que ele desenha, mas gosto do trabalho fotográfico. está a revelar-se um grande fotógrafo. quase tudo a preto e branco (coisa que é desprezada pelos “realistas”) e realmente íntimo.
podes ver o trabalho do hedi slimane aqui:
http://www.hedislimane.com/
little p
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