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__ segunda-feira, maio 22, 2006 _read her. em casa da minha avó também existia uma máquina de costura com pedal e roda. pertencia à minha tia, que num momento de inspiração trocou um colégio de freiras por um curso de costura. existia essa máquina de costura. tinha um naperon por cima, fotografias de mortos, o telefone, e estava sempre besuntada com óleo Pronto porque nunca era utilizada. mas se alguém pousasse os pés no pedal, a agulha mexia-se para cima e para baixo. pensei muitas vezes em pôr os dedos debaixo da agulha e comecei a escrever este texto para contar esses momentos. tenho a curiosidade dos suicidas mas não tenho a sua doença. acho que só queria furar os dedos para ter uma estória de sofrimento. nunca consegui porque tinha medo, ficava a olhar a agulha. no entanto, cheguei a pôr os dedos dentro de uma ventoinha em funcionamento, não doeu, pus os dedos nas hélices de uma varinha mágica em funcionamento, também não doeu. a Adília Lopes diz que nada é mais nosso do que o sangue, e por isso levamos os dedos à boca quando nos cortamos. gosto dessa imagem. há uma música de uma banda que se chama Okkervil River que é assim: Some nights I thirst for real blood for real knives for real cries. Sometimes the blood from real cuts feels real nice when it's really mine. a música é muito boa, chama-se For real. não interpreto isto como uma metáfora porque já vi um programa da Oprah Winfrey sobre cutters. o programa baseava-se na experiência de uma rapariga que tinha esta doença mental e aceitou ter uma câmara escondida no seu quarto. ela despia-se e ficava só em soutien e cuecas em cima da cama, começava a chorar, depois ficava histérica, agarrava numa lâmina e fazia pequenos cortes na barriga e na púbis. os cortes transformavam-se em finas linhas de sangue. as imagens eram impressionantes, muito mais impressionantes do que a pornografia clássica, mas fiquei a pensar que ela foi comprar lingerie sexy para ficar bonita na televisão. tenho quase a certeza que sim. sei que há espaço para encenar o sofrimento, lembro de me olhar ao espelho em adolescente depois de uma crise de choro. há uma música muito bonita do Stevie Wonder sobre isto: Lately I've been staring in the mirror Very slowly picking me apart Trying to tell myself I have no reason With your heart. Well, I'm a man of many wishes Hope my premonition misses But what I really feel my eyes won't let me hide cause they always start to cry cause this time could mean goodbye, goodbye. a bela adormecida sabia o que fazia quando picou o dedo no tear.
João | 10:26 |
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7 Comments:
Há já muito tempo que aqui não vinha. Mas hoje lembrei-me: ah, como sabe bem, pararem na passadeira para me deixar passar e ainda me cumprimentarem.
Ha!
Excelente posta! Deste-me inspiração. obrigado pela partilha! :)
Minha avó tinha exatamente esta máquina... uma Singer. Ela existe até hoje, foi levada para uma casa de campo. Você abre o tampo e a máquina está lá, pretinha e oleosa. Parece uma foca (pensamento de quando eu era pequena). Ela foi substituída por um modelo mais moderno, branco e azul, totalmente 1995.
Quanto à outra parte do post, eu fazia isso quando era pequena. Mas não usava facas. Não havia necessidade. No Brasil, temos mosquitos. Muitos mosquitos. E eu sou tremendamente alérgica a eles. Quando eles me mordiam, eu me coçava até romper a pele; mas depois, a coceira passava e eu continuava abrindo a ferida assim mesmo, assim que ela cicatrizasse. Comecei a fazer isso numa escola que eu odiava. O hábito cedeu à maturidade e à falta de mosquitos; minhas unhas bem curtas ajudaram também a parar com meu "cutting tropical".
Simone, eu penso que a máquina de costura era uma OLIVA, e não SINGER.
eu não tinha nenhum comportamento psicótico para me cortar. só tinha alguma curiosidade mórbida com objectos cortantes. assim que descobria que esses utensílios magoavam ou não, perdia o interesse neles.
Engraçado, pois tb tive essa vontade em relação à máquina de costura da minha mãe. Como era manual, cheguei a meter o dedo ao pé da agulha, e movimentei devagar o pedal. Fiz apenas um pequeno furo.
Quando vou fazer análises ao sangue ou quando há recolha deste, fico sempre a ver as agulhas a espetar e o sangue a jorrar. É o ritual da despedida inevitável.
Sobre cutters só me lembro da personagem da Maggie Gyllenhaal no "Secretary".
se tivesse dormido, diria mais do que isto: post brutal!
bela posta. farias feliz um terapeuta ;-)
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