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_ quarta-feira, janeiro 04, 2006 _


(acontece-me muito esta contradição: sentir uma empatia qualquer que me faz desculpar o lado mau de uma coisa.)

Shopgirl

filme que se dedica à eterna lenga-lenga das pessoas que não sabem o que fazer da vida (o que já deve ter sido filmado umas 526 vezes nos útimos anos, esta é só a versão nº527), e que ainda por cima nunca chega a qualquer sentimento credível de angústia ou esperança no futuro. mas eu gostei. deste falhanço surge outra coisa que não sei bem explicar e que me agradou. uma espécie de sonambulismo que atravessa as personagens e que não se entende bem se é propositado ou não, porque esse sonambulismo atravessa não só as personagens como o próprio filme. ou seja, acho que aquilo que me agradou existe somente por incompetência do realizador - a resignação magoada surge porque o filme é frouxo (sonâmbulo) e não porque a rapariga é frouxa.
filme que é sobre uma rapariga que é balconista incompleta e perdida e se chama Mirabelle. mas não há esforço para sair da crise nem grandes conversas para discutir o assunto, apesar de todos os clichés do género estarem disponíveis para isso. para Mirabelle há trabalho todos os dias da semana, e a espera por uma força exterior que se imponha e tome conta da vida, como magia. e isto foi o responsável pela empatia. de resto, as ilusões e desilusões amorosas são o que de menos interessante há para ver aqui.


esta imagem resume aquilo que me agarrou: a total passividade atrás do balcão. compreendo a espera pela hora de 'despegar', para mim faltam 30 minutos.
João | 18:03 |

4 Comments:

At 5/1/06 09:51, Blogger Venus as a boy said...

E para mim faltam 7 horas... :(

 
At 5/1/06 11:52, Blogger Daniel J. Skråmestø said...

Não vi esse filme mas já há muito tempo que estou curioso para o ver.
Essa passividade de que falas acho que é talvez o cerne do nouveaux neo-realismo. Hoje em dia já não há verdadeira miséria para filmar (quer dizer, há - e basta ver a maioria da produção cinematográfica portuguesa) mas a realidade da esmagadora maioria da pessoas do mundo ocidental "civilizado" é precisamente essa apatia que se revela nas caras da classe trabalhadora que é precisamente constituida de "shopgirls". A única potencial redenção, e sonho último dessa população, é tornarem-se estrelas pop. Mas como até para isso é preciso trabalhar, é melhor estar quieto.

 
At 5/1/06 12:06, Blogger João M said...

Daniel, esse é um ponto de vista interessante. Mas se, por exemplo, o Lost in Translation era uma discussão sobre essa apatia e falta de rumo, este filme é a própria apatia e falta de rumo. Foi o que gostei: não há discussão nem conversas filosóficas sobre 'oh eu sou sensível e inteligente mas não há nada pelo qual me consiga comprometer portanto o que é que vou fazer da vida?'.

:p

 
At 5/1/06 19:30, Blogger O Puto said...

Discussões dessas deveriam ser permitidas apenas em monólogos.

 

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