.comment-link {margin-left:.6em;} <$BlogRSDUrl$>
_

_ quinta-feira, dezembro 22, 2005 _


há qualquer coisa que me faz escrever posts depois de andar com um cigarro nos dedos e ar acabrunhado. no que a este post diz respeito, uma rua periférica do Parque Eduardo VII. gosto de passar por lá por causa dos coquichos, estão sempre com o bico no passeio. pensei então fazer um post com a seguinte frase
os meus galináceos preferidos são os coquichos

frase sem nexo e completamente a despropósito, nem sequer estou seguro de que 'coquicho' se escreva assim. mas depois lembrei-me de outra frase
a minha figura de estilo preferida é a metáfora

frase sem nexo e completamente a despropósito, esta dita pela Teresa, portanto mudei de ideias e vou escrever sobre a Teresa. não interessa se o nome é fictício ou real (por acaso é real), mas a Teresa disse isto atrás das casas de banho da Escola Secundária Dona Inês de Castro, em 1998, enquanto se partilhavam cigarros, e a Sandra, uma rapariga tão idiota quanto gira e que por acaso até é minha prima em vários graus (hoje fingimos que não nos conhecemos), disse
Ó Teresa és tão parva, só tu para teres uma figura de estilo preferida

era isto que se esperava da Teresa e era isto que se esperava da Sandra (esta não interessa).
a Teresa era a betinha e a marrona mor, mas entretanto, para surpresa de todos, começou a namorar com um rapaz muito irritante que já andava a fazer Matemática há décadas, e lá conseguiu entrar mais ou menos na dinâmica da escola. eu não gostava do rapaz, era tão parvo, era místico e fazia cenas com tarot. nem vou dizer o nome dele. sempre que os via juntos pensava para mim: não sei como é que ela aguenta. pois eis que uma bela noite, por acaso numa festa da discoteca Sunset, a Teresa embebedou-se e curtiu com uma rapariga. a relação com o rapaz acabou na pista de dança, eu fiquei muito feliz. no terceiro período lectivo assumiu-se como lésbica e entrou definitivamente na dinâmica da escola, mesmo a tempo de acabar o secundário com média de 19 valores (recebeu um prémio monetário e tudo) e entrar para filosofia na Clássica. eu passei para o 12º ano. o rapaz chumbou outra vez a Matemática. a Sandra desistiu da escola e foi trabalhar para a Modalfa.
no ano seguinte, o jornal da escola convidou a Teresa, no papel de melhor aluna do ano anterior, para escrever um texto sobre a experiência da Universidade. ela acedeu para dizer que estava muito feliz em Lisboa, e que olhando em retrospectiva, via a escola secundária como um 'espaço de desafectos'. acho que ninguém ligou muito a isto, talvez só os professores inteligentes, mas eu achei aquilo muito polémico e desenvolvi uma espécie de paixão platónica.

quando estava a pensar neste post na rua dos coquichos havia mesmo um sentido para contar o que estou a contar, mas, no caminho, acabei por esquecer. a falta de sentido estava a preocupar-me enquanto escrevia, porque agora a história da Teresa acaba e não há como esconder que isto não tem nexo e vem completamente a despropósito. não interessa. a Teresa já não me conhece nem sabe que tenho este blog, por isso acho que não faz mal. em minha defesa posso argumentar que se me lembro de duas frases que ela disse em 1998, a da metáfora e a dos desafectos, tenho alguns direitos sobre a sua biografia. eu estava lá, eu lembro-me.

para terminar. descobri há poucos dias com muito horror que o rapaz irritante que namorou com ela tem um perfil no gaydar. agora diz que é bisexual. cliquei logo naquele ícone do 'não gosto de ti'.
seja como for, o que me chateia é que se a Teresa em 1998 queria ter uma relação baseada em amores de concretização impossível, devia ter sido comigo. agora vejo-a muito irregularmente, uma vez por ano, no Natal. tenho a certeza que a vou encontrar este fim-de-semana no café do Sr Luís em Alcobaça. acenaremos a cabeça um ao outro num gesto de boa-educação. mas o que eu queria era ser amigo dela, sempre quis. olá Teresa.

João | 14:38 |

4 Comments:

At 23/12/05 14:39, Blogger Daniel J. Skråmestø said...

Este post fez o meu dia.
ri-me, enterneci-me, fiquei triste e depois nostálgico e depois alegre outra vez.
Um abraço natalício (só porque é natal, senão era dos normais)

 
At 23/12/05 14:53, Blogger João M said...

oh, abraço natalício também para ti! ;-)

(a teresa é a minha Jackie Brown)

 
At 23/12/05 16:36, Blogger O Puto said...

Que grande pequena história! Era demais que a Teresa lesse este post.

 
At 27/12/05 04:43, Anonymous Anónimo said...

'espaço de desafectos' é a expressão que eu usaria para qualificar a faculdade, mas lá está: a Teresa devia ser uma rapariga inteligente...

 

Enviar um comentário

<< Home