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__ sexta-feira, outubro 17, 2003 _
Na minha pré-adolescência (andava no sexto ano), o meu pai pôs-me a ter aulas de piano (na verdade era um orgão de 49 teclas), por causa de um desejo da minha mãe (ele lembrou-se desse desejo porque um colega de trabalho tinha um filho a estudar música). Houve um momento em que tive como referência aquela música muito bonita que o Michael Nyman compôs para O Piano, e treinava a destreza dos meus dedos com escalas para que a minha professora Hercília me desse a pauta dessa música. Um dia estava a tocar escalas no meu quarto e a Ermelinda aparece e pergunta-me se eu não sabia tocar "aquela música do mexilhão" (um hit pimba da altura). Nesse momento, tive um prenúncio de que iria desistir da música. Acabei por desistir da música por causa do Dancing Queen dos Abba, mas não me apetece agora contar a história. Andava no oitavo ano quando desisti da escola de música, que se chamava Sinfonia (o S era uma clave de sol). Quando andava no 11º soube que o marido da minha ex-professora se tinha suicidado com veneno, por causa de dívidas. Isto só prova que eu e a São José Correia não sabemos tudo. Pode haver poucas formas de ser feliz, mas há com certeza muitas de ser infeliz. A Hercília mudou-se com os filhos para outra cidade e vendeu a escola, que entretanto se extinguiu em Alcobaça mas propagou-se para as Caldas da Rainha e Leiria. A gerência deve ter melhorado. Às vezes, no final de certos programas televisivos, o logotipo da Sinfonia aparece como patrocinador de instrumentos musicais, e lembro-me sempre dos Abba, da professora Hercília e do seu marido suicida. Espero que a minha professora Hercília tenha as duas mãos ocupadas.
João | 12:39 |
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