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_ sexta-feira, outubro 31, 2003 _


"(...) De forma que no momento em que o doente seguinte entrou já me esquecera dela. Já me esquecera dela. Já me esquecera dela. Graças a Deus já me esquecera dela". De todos os grupos de pessoas que não está no metro de passagem, os que me custam mais a esquecer, tal como ao Lobo Antunes deste excerto, são os esquizofrénicos. Os drogados, os mendigos, as ciganas e os seus filhos, os sem-abrigo, os aleijados, todos os que estão isolados na sua desgraça, não sinto neles nenhuma vontade de estabelecer outro tipo de relação para além da doação de uma moeda, o que me ajuda a torná-los e a toda a sua desgraça e a toda a sua vida perdida em algo que é mais ou menos fácil de esquecer. Mas para com os maluquinhos do metro não tenho defesas.
No mesmo dia cruzei-me com dois. No Marquês de Pombal, uma senhora falava para o ar como se fosse uma prostituta. Tinha ganchos azuis no cabelo branco. Quando passei por ela dizia "O José Viana morreu e deixou-me cinco horas de sexo por pagar". Quando me sentei deixei de conseguir perceber o que dizia mas as pessoas continuavam a rir. Antes disso, na Alameda, um senhor também idoso praguejava a uma velocidade tal que era impossível perceber uma frase inteira.
Estas duas pessoas não querem moedas, olham mesmo para a cara das pessoas, continuam a falar mesmo que sejam ignorados ou gozados. Só que a única coisa que consigo fazer é sentir piedade e comoção, e isso não resulta.
João | 10:00 |