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__ quarta-feira, janeiro 28, 2009 _não existe nenhuma vantagem em guardar jornais velhos, mas se por algum desmazelo inconsciente isso acontece, não existe nenhuma desvantagem em voltar a lê-los. _ domingo, janeiro 18, 2009 _(1) vi a rapariga falar com as outras pessoas. era ainda adolescente, talvez 18 ou 19 anos, calçava umas sapatilhas Nike, com cores fluorescentes, empoeiradas, e as calças de ganga estavam rasgadas na baínha. eu estava a comer uma salada tropical e ela aproximou-se da minha mesa. como tinha antecipado a pergunta limitei-me a responder com um aceno de cabeça. ela voltou a insistir, disse que tinha perdido a carteira, não tinha dinheiro, e desta vez eu expliquei que não tinha moedas e ambos percebemos a retórica mentirosa dos nossos discursos. a rapariga voltou-se para outra mesa. eu estava sozinho, e ver quais as pessoas que davam ou não algumas moedas passou a ser uma forma de passar o tempo da refeição.
João | 01:34 |
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a rapariga voltou alguns minutos depois com um tabuleiro na mão, sentou-se na minha mesa, e desembrulhou um hambúrguer. nesta altura eu estava ainda a comer a minha salada tropical, a fazer o esforço consciente para comer naturalmente a salada tropical. tentei focar a atenção noutras pessoas. a rapariga comia muito serenamente e conseguia ignorar-me totalmente. quando a minha refeição terminou, eu era fraco e a rapariga era forte. contei isto e fui recriminado: "é muito triste que te custe dar uma moeda a uma pessoa que precisa de comer". (2) estava à espera de uma amiga e fui abordado por uma senhora que fez uma introdução algo rebuscada e algo interminável à qual eu ia reagindo com uma expressão facial que indicasse que não iria aceder a nada que me propusesse, sinal que ela percebia e ignorava, prosseguindo e fazendo um esforço cada vez maior para causar empatia entre nós. e eu como estava naquele local por um propósito, sem poder movimentar-me, ouvi toda a história. a senhora teve um domínio total do diálogo e apenas me deu oportunidade para falar quando terminou. eu recusei. ela fez um sorriso e disse: "custa muito dar 50 cêntimos não custa?". a mudança drástica de uma simpatia forçada para um sarcasmo tão cortante foi surpreendente. senti que a senhora era forte e eu era fraco. |
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